Brasil prevê importação recorde de trigo em 2025 diante da queda de área plantada

A safra de trigo no Brasil em 2025 deve registrar uma mudança importante no cenário de abastecimento: a redução da área plantada vai diminuir a produção nacional e, consequentemente, aumentar a necessidade de importações. A previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que o país compre do exterior mais de 7 milhões de toneladas do grão ao longo do ano, marca que pode superar os recordes anteriores.

Redução da área plantada

Os dois principais estados produtores — Rio Grande do Sul e Paraná — são os que mais puxam essa retração.

• No Rio Grande do Sul, a área destinada ao trigo deve cair quase 14%, passando de 1,339 milhão de hectares em 2024 para 1,155 milhão em 2025.

• No Paraná, o recuo deve ser ainda mais expressivo: queda de 28%, saindo de 1,147 milhão para 823 mil hectares.

Somando todas as regiões, o país deve cultivar 2,449 milhões de hectares, quase 20% a menos do que no ano anterior.

Produção em queda

Com menos área semeada, a colheita também será menor. A Conab estima uma produção em torno de 7,53 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 4,5% frente a 2024.

Essa diminuição na oferta interna ocorre em um momento em que o consumo brasileiro continua elevado, tanto para uso direto na alimentação (farinhas e pães, por exemplo) quanto para formulação de rações destinadas à pecuária.

Importações devem bater recorde

Para garantir o abastecimento, a expectativa é de que as importações cresçam significativamente:

• Entre janeiro e setembro de 2025, devem entrar 5,17 milhões de toneladas de trigo no país.

• No mesmo período de 2023, foram pouco mais de 3 milhões de toneladas — o menor volume já registrado.

• Considerando o ano completo, as compras externas podem atingir 7 milhões de toneladas, acima das 6,6 milhões importadas em 2024.

Impactos para o campo

Esse cenário traz alguns pontos de atenção para produtores rurais:

1. Custo de produção da pecuária: o trigo é um dos grãos usados na formulação de rações. Se o preço interno subir devido à menor oferta nacional, pode haver impacto no custo da alimentação de aves, suínos e bovinos.

2. Concorrência com grãos substitutos: milho e sorgo, que também são utilizados em rações, podem ganhar espaço. Isso pode abrir oportunidades para produtores desses grãos, já que a indústria pode buscar alternativas mais competitivas.

3. Mercado de farinhas e derivados: padarias, moinhos e indústrias alimentícias tendem a repassar eventuais aumentos de custo para o consumidor final, o que pode reduzir o consumo ou gerar pressão por trigo mais barato no mercado internacional.

4. Planejamento de safras futuras: a queda de área em estados líderes no cultivo pode indicar que muitos produtores estão avaliando margens de rentabilidade menores no trigo, optando por culturas que oferecem maior retorno. Esse movimento deve ser acompanhado de perto para que o produtor ajuste seu planejamento, especialmente em regiões que podem ter condições climáticas favoráveis ao trigo.

O que observar daqui para frente

Produtores e cooperativas precisam ficar atentos à cotação internacional do trigo, à variação cambial (dólar) e à política de importações, já que esses fatores vão influenciar diretamente o preço do cereal no mercado interno.

Além disso, a decisão sobre ampliar ou reduzir áreas de trigo nas próximas safras dependerá de como se comportará o mercado em 2025. Uma valorização do preço interno pode estimular o retorno da cultura em 2026, caso os custos e riscos de produção sejam compensados.